Desde quando se pode falar em
História das Religiões? Uma resposta adequada é há cerca de .500 anos. Mircea
Eliade (1992) expõe que pode-se constatar uma primeira manifestação de
interesse pela História das Religiões na Grécia clássica, no século 5º a.C.
Os gregos, nos seus relatos de
viagens, intercalavam descrições dos cultos estrangeiros e os comparavam com os
fatos religiosos nacionais da Grécia. Heródoto (484-425 a.C.) já apresentava descrições
bem exatas de algumas religiões consideradas exóticas e bárbaras, em locais
como Egito, Pérsia, Trácia e Cítia. Esse historiador grego chegou a propor
hipóteses sobre as origens dessas religiões e sobre suas relações com os cultos
e mitologias da Grécia.
Ao mesmo tempo, os filósofos
gregos faziam crítica à religião tradicional. Os pensadores pré-socráticos
fundaram a crítica racionalista da religião, interrogando sobre a natureza dos
deuses e o valor dos mitos.
Pode-se afirmar que o primeiro
historiador grego das religiões foi Teofrasto (372-287 a.C.). Ele foi sucessor
de Aristóteles na direção do Liceu e compôs uma História das Religiões em seis
livros.
As tradições religiosas dos povos
orientais só puderam ser conhecidas e descritas pelos escritores gregos com
base nas conquistas de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.). Eles descreveram essas
tradições juntamente com os mitos, ritos e costumes religiosos que denominavam
exóticos.
Epicuro (341-327 a.C.), em
Atenas, fez uma crítica radical da religião, afirmando estas convicções: o
"consenso universal" prova a existência dos deuses; entretanto, os
deuses são seres superiores e longínquos, sem nenhuma relação com os seres
humanos. As teses de Epicuro ganharam profundidade no mundo latino do século 1º
a.C. com as contribuições de Lucrécio.
Quem não sente o coração apertar-se com medo dos
deuses e contrair-lhe os membros pelo terror, quando a terra treme sob o
estrondo dos trovões e quando os raios riscam o céu? Por acaso não tremem os
povos e as pessoas? Não é verdade que até os altivos soberanos se encolhem com
medo dos deuses? (Lucrécio. De rerum natura, Livro V, vv. 1218-1222, apud
FIORAMO e PRANDI, 1999, p. 60.)
No entanto, no final do período
antigo, foram os estoicos que exerceram uma influência mais profunda, uma vez
que eles resgataram e revalorizaram a herança mitológica por meio do mé-
todo da exegese alegórica. Para
os estoicos, os mitos revelam visões filosóficas sobre a natureza profunda das
coisas, como também encerram preceitos morais. Os múltiplos nomes de deuses
designam uma só divindade. Assim, todas as religiões exprimem a mesma verdade
fundamental, só variando a terminologia.
O alegorismo estoico possibilitou
a tradução de qualquer tradição antiga em linguagem universal. Observe, ainda,
que, desde Heródoto, há uma ideia de que certos deuses eram reis ou heróis
divinizados, por causa de serviços prestados à humanidade. O filósofo grego
Evêmero (330-260), em sua obra Escrita sagrada, afirmou que os mitos são apenas
relatos fantásticos de fatos
históricos, e que os deuses eram
descritos a partir das ações de seres humanos notáveis – desta forma
popularizou a interpretação pseudo-histórica da mitologia.
Os romanos também escreveram
obras de valor histórico--religioso. No Império Romano, houve o reconhecimento
sobre as religiões exóticas e uma investigação sobre as antiguidades religiosas
dos diversos países. Isso foi favorecido não apenas pela difusão dos cultos
orientais e das religiões dos mistérios, mas também pelo sincretismo religioso
que daí resultou, ocorrido especialmente em Alexandria.
Os cristãos apologistas e
heresiarcas opunham aos múltiplos deuses do paganismo o Deus único da religião
revelada. Tentavam demonstrar a origem sobrenatural, a superioridade do
cristianismo e a origem idolátrica dos deuses pagãos do mundo pré-cristão.
Nesse contexto, os pagãos reagiam
por meio de escritos, com ataque violento ao cristianismo, ao mesmo tempo em
que apresentavam o ideal da sua religiosidade, com tolerância e sincretismo.
O contra-ataque cristão foi
registrado em escritos de grandes eruditos, inclusive padres da Igreja. Para a
História das Religiões, são interessantes as informações histórico-religiosas
que estão nesses escritos e nos de seus adversários. Ali há informações sobre
os mitos, ritos e costumes de quase todos os povos do Império Romano, inclusive
sobre os gnósticos e as seitas heréticas cristãs.
O interesse pelas religiões
estrangeiras do Ocidente veio na Idade Média, no confronto com o islamismo.
Postado por: Anaildo J. Silva Th.
M
ITEP – RABONI – Instituto Teológico
de Ensino e Pesquisa
Faça um Curso de História das Religiões
Contate-nos:
(19) 3545-4844
(19) 99618-3120