Para iniciar nosso estudo
sobre Marx, vejamos algumas críticas à sua obra:
Sua
obra é criticada e qualificada como superada, mas tal fato normalmente ocorre
sem que as pessoas efetivamente conheçam o que ele escreveu!
Seus
críticos atribuem a ele a culpa pelo fracasso dos Estados que adotaram o
chamado "socialismo real". No entanto, ele nunca chegou a ocupar um
cargo em qualquer governo revolucionário, e sua teoria nunca chegou a ser
integralmente aplicada, tendo falecido antes de qualquer tentativa efetiva de
revolução socialista.
Não há maneira melhor de tentar vencer uma disputa teórica do que
procurar desqualificar o oponente, ainda mais quando este é extremamente
preparado. Desqualificando o seu opositor, a pessoa procura ganhar o debate sem
ter necessidade de efetivamente provar seus próprios pontos: o objetivo é
tornar-se vencedor, tentando mostrar que o adversário não é tão capacitado
quanto a pessoa que o critica. Desse modo, foge-se do verdadeiro debate.
Poucos pensadores na
história da humanidade possuem a densidade de Karl Marx. Sua obra teórica é
muito maior do que seus discursos políticos. Assim, antes de ser um
revolucionário, de defender a transformação radical da nossa sociedade, ele
era um intelectual. Para entrarmos na discussão proposta por Marx acerca da
religião, vamos refletir sobre os aspectos gerais da sua teoria.
O motor da História é a luta de classes
A teoria elaborada por
Marx é chamada de materialismo histórico dialético. Para entendê-la,
precisamos, inicialmente, ter clareza sobre o significado de cada um dos seus
termos:
Materialismo: o termo remete-nos à ideia de
material, de matéria, portanto, àquilo que existe concretamente. Esse conceito
nos indica um tipo de teoria centrada naquilo que existe de concreto na
sociedade, distante das abstrações metafísicas, que são comuns no pensamento
místico.
Histórico: Marx era um grande conhecedor da
História e procurava sempre contextualizar suas reflexões com uma rica descrição
dos períodos. Desse modo, sua teoria analisa a evolução histórica da
humanidade, enfatizando a interpretação dos diferentes modos de produção
empregados pelos homens ao longo dos tempos.
Dialético: o pensamento dialético admite a sua
própria contradição como parte da mesma argumentação. Um método de reflexão é
apresentado em três partes: tese, antítese e síntese.
Observe que, ao utilizar
esse método, partimos de algo para o seu contrário, chegando, então, a uma nova
definição. Em termos de análise histórica, ele indica a reinterpretação do
passado, utilizando o presente como base, mas visando traçar o futuro.
Precisamos entender a
forma pela qual Marx interpretava todo o processo histórico e a realidade de
seu tempo.
Ele viveu em uma época marcada pelos avanços cada vez mais surpreendentes
da Revolução Industrial. Surgiam novas máquinas e novos produtos, parecendo
anunciar um novo mundo, ao qual Marx estava de
sinteressado, pois, em
seu entender, esse novo mundo não tinha nada de tão novo assim.
O foco de suas
preocupações eram os efeitos dessa nova realidade na vida dos trabalhadores
assalariados. Nesse aspecto, o que ele presenciava não era nada a ser buscado
com ansiedade:
1) jornadas de trabalho superiores a 14
horas diárias;
2) mulheres e crianças trabalhando o
mesmo número de horas que homens adultos, mas recebendo bem menos;
3) ambientes de trabalho insalubres,
tanto pela falta de higiene quando pela estrutura física das fábricas, normalmente
mal ventiladas;
4) condições de moradia piores para os
trabalhadores;
5) alimentação precária;
6) fiscalização e vigilância constante
no ambiente de trabalho;
7) salários tão reduzidos que mal
chegavam a garantir o sustento de um único trabalhador, criando a necessidade
de que toda família trabalhasse;
8) repressão policial truculenta em caso
de manifestações por melhores condições de trabalho.
Note que, na sociedade
industrial, o trabalho, ao mesmo tempo em que era a fonte da riqueza do dono da
fábrica, pois este vendia o que era produzido, era, também, parte de seu
prejuízo, expresso no pagamento dos salários dos trabalhadores. Como a
tendência do capitalismo é minimizar tudo o que é prejuízo, os salários foram,
então, reduzidos ao mínimo, ou seja, somente o necessário para garantir a
sobrevivência do trabalhador. A questão seria, então, que o operário, o
chamado proletário, produzisse grandes lucros para seu patrão, o burguês,
mas não recebesse um salário equivalente aos lucros que gerou.
O termo proletário indica
a pessoa que nada possui de seu, a não ser a própria prole. Historicamente, burguês
seria o morador do burgo, da cidade, que, portanto, não se dedicava aos
trabalhos agrícolas, mas, sim, às atividades artesanais e mercantis.
Quanto mais rápido se acumula o capital numa cidade industrial ou
comercial, tanto mais rápido o afluxo do material humano explorável e tanto
mais miseráveis as moradias improvisadas dos trabalhadores. Newcastle-upon-Tyne,
como centro de um distrito carbonífero e de mineração cada vez mais produtivo,
ocupa, depois de Londres, o segundo lugar no inferno da moradia. Nada menos que
34 mil pessoas vivem lá em moradias de uma só peça. Por serem extremamente
prejudiciais à comunidade, a polícia fez há pouco demolir um número
significativo de casas em Newcastle e Gateshead. O avanço da
construção das novas casas é muito vagaroso, o dos negócios muito rápido. Por
isso, em 1865 a cidade estava mais superlotada do que em qualquer momento
anterior. Quase não havia um único quarto para alugar. O Sr. Embleton, do
Hospital de Febres de Newcastle, afirma:
Não se pode duvidar de que a causa da persistência e propagação do
tifo é a excessiva aglomeração de seres humanos e a falta de higiene em suas
moradias. As casas em que os trabalhadores freqüentemente vivem situam-se em
becos cercados e pátios. Quanto a luz, ar, espaço e limpeza, são verdadeiros
modelos de insuficiência e insalubridade, uma desgraça para qualquer nação
civilizada. Ali, à noite, homens, mulheres e crianças deitam-se misturadamente.
No que tange aos homens, o turno da noite segue ao turno do dia em fluxo
ininterrupto, de modo que as camas quase não têm tempo de esfriar. As casas são
mal supridas de água e, pior ainda, de privadas; são sujas, mal ventiladas e
pestilentas (MARX, 1988, p. 213).
Por isso, a transformação da sociedade capitalista (seu desaparecimento)
era defendida por Marx! Construir um novo modelo de sociedade era uma urgência
que sua visão crítica não podia deixar passar.
Prof.
Anaildo Silva
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