Livros de psicologia em tom de
autoajuda têm inundado o mercado, trazendo ao leitor a promessa do
autoconhecimento e propondo nova teorias. "Top Brain, Bottom Brain"
(Cérebro de Cima, Cérebro de Baixo) é mais um deles, mas possui uma diferença:
seu autor é Stephen Kosslyn, um psicólogo que de fato tem respeito na
comunidade acadêmica.
Tendo trabalhado como professor nas
universidades Harvard e Stanford, nos EUA, ele propõe um novo esquema para
explicar de onde surgem as diferenças entre as pessoas em seus modos de pensar.
O livro também desmistifica a maneira
como a cultura popular aborda a questão, separando pessoas entre os tipos
"criativo" ou "racional" --associados ao lado direito e
esquerdo do cérebro, respectivamente. Kosslyn explica por que considera essa
noção simplista antes de detalhar sua própria teoria.
Com o jornalista G. Wayne Miller, seu
coautor, o psicólogo argumenta que um corte "horizontal" no cérebro
(dividindo-o entre as partes de cima e de baixo) é mais eficaz para mapear
diferenças na forma como cada pessoa interage com o mundo.
Em vez de um hemisfério
"criativo" contraposto a outro "racional", obtêm-se duas
áreas com igual capacidade de intuição e raciocínio. Nesse caso, a distinção é
que um deles é "executivo/planejador", enquanto o outro é
"observador/perceptivo".
Como cada pessoa pode dar ênfase a uma
das duas áreas, a ambas ou a nenhuma, Kosslyn conjectura que existam quatro
tipos de pessoas, cada uma exibindo um "modo cognitivo" distinto.
"Se seu interesse é evoluir
pessoalmente, socialmente ou nos negócios, acreditamos que compreender e
considerar nossa 'Teoria dos Modos Cognitivos' pode beneficiá-lo",
escrevem Kosslyn e Miller na introdução do livro. Ao fim, o leitor é convidado
a preencher um teste que revela qual é seu modo predominante (veja quadro).
O tom de autoajuda em certos trechos do
livro destoa da contracapa, na qual Robert Sapolsky e Steven Pinker, dois dos
intelectuais mais respeitados da área, endossam o trabalho de Kosslyn.
Editoria de Arte/Folhapress
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QUATRO DIREÇÕES
Pinker, que descreve Kosslyn como
"um dos maiores neurocientistas cognitivos" da atualidade, afirmou à
Folha que não vê o livro como algo que invalide a divisão de funções entre os
lados esquerdo e direito do cérebro --algo que existe, mas de modo mais sutil
do que a cultura popular apregoa.
"As pessoas terem diferenças ao
longo do eixo de cima para baixo do cérebro não tem nada a ver com elas poderem
ter diferenças ao longo do eixo da esquerda para a direita", disse Pinker.
Em "Top Brain, Bottom Brain",
a maior crítica à divisão lateral do cérebro é que a psicologia experimental
falhou em comprovar a existência de um cabo de guerra entre os lados esquerdo e
direito do cérebro, com a racionalidade tentando se sobrepor à intuição, e
vice-versa.
A divisão cerebral entre andar de cima
e andar de baixo seria mais flexível, por isso dá origem a quatro subtipos de
pessoa, não apenas dois. Isso não impede Kosslyn de entrar em terreno delicado,
quando defende que o "modo cognitivo" dominante de cada pessoa é
parcialmente determinado pela genética.
Enquanto pessoas no modo
"condutor" teriam propensão à liderança, aqueles em modo
"adaptador" seriam bons companheiros de equipe, ideais para
implementar planos que não são seus.
Seriam esses últimos, então, destinados
à posição de subserviência, como as castas inferiores de "Admirável Mundo
Novo"? "Espero que não", disse Kosslyn à Folha.
"A contribuição genética, que se
dá principalmente pelo temperamento, é minoritária", afirma o psicólogo.
"Você não está aprisionado pelos seus genes, mas é bom que esteja ciente
de ter certo temperamento e que isso pode estar influenciando-o."
Kosslyn, por fim, não exibe sua teoria
como trabalho completo; ele ainda busca psicólogos experimentais dispostos a
testá-la. O livro, diz, já despertou esse interesse.
POR RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO
Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/11/1376048-psicologo-americano-separa-pessoas-em-quatro-perfis-segundo-formas-de-pensar.shtml>
acessado em 01/12/2013 as 08:45.