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sexta-feira, 14 de março de 2014

JERUSALÉM A CIDADE DO GRANDE REI ATRAVÉS DOS TEMPOS

JERUSALÉM - יְרוּשָׁלַיִם - A CIDADE DO GRANDE REI ATRAVÉS DOS TEMPOS


INTRODUÇÃO

A cidade de Jerusalém é a capital de Israel, sendo a maior cidade de Israel em área e em população do país, ela se estende por 126 quilômetros quadrados e tem uma população de cerca de 750.000 habitantes e está localizada sobre as montanhas da Judéia entre o Mar Mediterrâneo ao Ocidente e o Mar Morto ao Oriente. Jerusalém teve sua origem na história a cerca de 4.000 anos, a 3.000 anos atrás o Rei Davi tornou-a a Capital Eterna do Povo de Israel para nunca mais sair de um dos papéis mais centrais da história da Humanidade.

A CIDADE SANTA DESDE SEUS PRIMEIROS DIAS

Jerusalém teve em seus primeiros dias o nome de Jebus, a capital e principal cidade dos Jebuseus, um dos povos canaanitas que viviam na região antes da conquista de Israel e da saída do povo do Egito. Há quem afirme que sua origem seja ainda mais antiga, seus primeiros dias teria sido relatados no livro de (Gn 14.18), onde foi chamada de Shalem a cidade reino de Melquisedek o Rei da Justiça, o significado de Shalem é "Completa" e está intimamente relacionado com dos significados do nome Yerushalaim. Segundo esta visão, o Jebuseus na realidade haviam conquistado a colina hoje conhecida como Cidade de Davi, então chamada Monte Sião, transformando-a em uma cidade que ante servia ao Deus Vivo no centro de culto pagão dos jebuseus, fonte de idolatria caananeia e implantado alí bem próximo, no vale de Hinom o sacrifício de crianças ao deus Molech ( Moleque ), uma representação de Satanás na terra. Este fato representaria a tentativa demoníaca de assumir o trono na cidade do Grande Rei. Esta tese seria a melhor explicação para compreendermos o interesse de Davi por esta pequena cidade no coração da Judéia e no desejo de conquista-la. Davi que podia ter muitos defeitos foi chamado de o Rei segundo o Coração de Deus por buscar incessantemente fazer a vontade do Altíssimo, sendo assim, a conquista de Jebus não passaria de uma obediência a vontade divina e o trazer de volta ao Senhor aquilo que o pertencia. Davi em sua conquista estaria retornando a Cidade Santa ao Senhor. A conquista da Cidade pelas mão de Davi se deu por cerca de 999 A.C e ele a tornou a Capital de seu Reino Unido ( Judá e Israel ).

JERUSALÉM E SUA PROPORÇÕES ATRAVÉS DA HISTÓRIA

A Cidade de Davi tinha somente cerca de 400 metros de comprimento e cerca de 100 metros de largura, sua população não passava de 1.500 habitantes. Esta pequena cidade contava com um pequeno aqueduto no sub-solo que garantia água para a cidade mesmo em secas ou quando estivesse cercada pelos seus inimigos. A conquista de Davi mudou a face da cidade de uma vez por todas, imediatamente após sua conquista Davi iniciou uma série de empreendimentos na cidade, bem como a construção do palácio real e os preparos para a construção do Templo sobre o Monte Moria, a parte mais alta na região norte do Monte Sião. Ainda nos dias de Davi a muralha norte foi desfeita e os limites da cidade expandidos em direção ao Monte Moria, entre as duas colinas, o Monte Sião e o Monte Moria foi construído o palácio real, então a cidade já havia triplicado de tamanho. Ao norte ficava situado o Monte do Templo, ao oriente se estendeu-se até o vale de Cedron, ao ocidente o "Vale dos Fabricantes de Queijo" que nos dias de hoje percorre desde a Porta de Damasco passando junto ao Muro das Lamentações e chegando até a Piscina de Siloé.

JERUSALÉM DURANTE O REINO DE SALOMÃO E SUAS EXTENSÕES.
Durante seu reino a cidade atinge a população de cerca de 6.000 habitantes. Salomão constrói o Primeiro Templo de Jerusalém tornando-a Capital do Reino Unido de Israel e Centro Espiritual do país. 700 anos após o Reino de Melquizedek Jerusalém volta a ser o Centro Espiritual de adoração a ADONAI.
As construções de Salomão e sua sabedoria atraem para a cidade pessoas do mundo inteiro, artesãos, engenheiros e mão de obra especializada além de reis, príncipes e magos, porém os limites pouco se alteraram desde o fim do reinado de Davi seu pai.
COMPREENDENDO SEU SIGNIFICADO
Se associarmos as palavras IR ( עיר ), que significa cidade a palavra Shalem ( שלם ) obteremos IRSHALEM, acrescentando-se (dele) ou seja a Cidade dele é de Paz (Pazes) = IROSHALAIM obteremos a escrita עירושלים que seria a origem de ירושלים. Há porém muitas outras teses para o significado desta cidade mas é bem provável que este nome revele uma das características mais marcantes desta cidade, o fato de ter sido conquistada, dividida, reunificada, local de conflitos, morte, vida e ressurreição. Não há nenhum outro lugar no mundo inteiro tão disputado como Jerusalém nestes poucos quilômetros quadrados na região central das montanhas da Judéia.

JERUSALÉM APÓS SALOMÃO
Com a morte de Salomão e a subida ao poder de Roboão seu filho, ocorreu o cumprimento da profecia da divisão do reino em dois, Juda e Israel, sendo que Roboão em Jerusalém reinava somente sobre Juda. Por esta causa a cidade quase não se desenvolveu por centenas de anos, situação que mudou quando os Assírios conquistaram o Reino de Israel (O Reino do Norte) em 722 A.C. e parte da população da região migrou para as cidades da Judéia, para Jerusalém em especial. Sua população começou a aumentar rapidamente e muitos da região começaram a viver do lado de fora das muralhas. Por causa da pressão da Assíria e suas tentativas em conquistá-la, a cidade foi ampliada afim de incluir dentro de suas muralhas os novos bairros, sua expansão se deu no ano de 701 AC. A cidade havia se expandido em direção a Colina Ocidental, conhecida hoje como Monte Sião, onde hoje se encontram as igrejas de Galo Cantus, Dormição e a Porta de Sião na atual cidade velha, além disso se expandiu para onde hoje é o Quarteirão Judaico até a Muro Largo citado no Livro de (Ne 12.38) que foi descoberto pelos arqueólogos e pode ser visto nos dias de hoje com cerca de 65 metros de extensão e 7 metros e meio de largura. Foi durante este período de expansão que o Rei Ezequias deu ordem para escavar o aqueduto que desviaria as águas de Gião (Gihon) até a piscina de Siloé no sul da Cidade afim de garantir neste reservatório um grande abastecimento mesmo em períodos de cerco.
Antes do aqueduto subterrâneo as águas se dirigiam pelo pequeno aqueduto feito pelos cananeus em direção ao oriente afim de regar as plantações dos jebuzeus que ficavam no vale de Cedron. As águas brotam além, dentro no coração da terra em uma câmara ( cisterna ) chamada Fonte de Gião ( Gihon ), neste mesmo local Salomão foi ungido Rei de Israel a cerca de 2.950 anos atrás por ordem de Davi seu pai e sob a presença do Sumo Sacerdote e o secretário do rei. Este local pode ser visitado nos dias e faz parte do Parque Arqueológico da Cidade de Davi. Deste local Salomão, que tinha apenas 7 anos subiu sobre um jumentinho até o plácio real a cerca de 100 metros de distância onde acompanhado pelo povo assentou-se no trono de seu pai. Com a construção do aqueduto foi também construída a Piscina de Siloé ( Brichat Shiloach )para abrigar suas águas no sudoeste da cidade. Com a finalização destas obras, a cidade pode se expandir melhor em direção ao ocidente, pois seu abastecimento foi garantido. Houve uma expansão em torno da Colina Ocidental e escavações arqueológicas indicam que no norte desta colina foi construída uma grande torre provavelmente no final do período dos reis de Juda. Após esta expansão a cidade chegou a abrigar uma população de cerca de 20.000 habitantes.

A CONQUISTA DA CIDADE
No ano de 586 A.C. a cidade foi conquistada pelas mãos dos Babilônios sob o comando de Nabucodonozor seu rei. Os babilônicos deportaram a população da cidade, destruíram Jerusalém e roubaram suas relíquias. A cidade ficou praticamente abandonada por cerca de cinqüenta anos quando no ano de 538 A.C. Adonai mudou novamente o rumo da historia, despertando a Ciro, rei da Pérsia para dar ordens aos judeus de reconstruírem a cidade e retornarem para sua terra. Desde então inicia-se o período dos "Os que voltam a Sião", sob o comando de Esdras e Neemias. Infelizmente, somente um pequeno número voltou a cidade no início do período o que dificultava sua restauração. Mesmo em pequeno número sua população começou a reconstruir o que hoje é conhecido como o Segundo Templo.

OS MACABEUS ( MACABIM, HASHMONAIM )

Segundos os arqueólogos, houve um crescimento dramático na cidade no perído da revolta dos macabeus no anos de 167 A.C. e a reconquista da cidade pelas mãos dos judeus. Com a subida da família dos Hashmoneus ao poder sob o governo de Simão e Jônatas Macabeus, a cidade voltou a ser a Capital de Israel e a prosperidade voltou a Cidade Santa, que voltou a ser a capital do país. Neste período foram realizadas grandes obras, entre elas foi determinado o perímetro da esplanada do Templo de Jerusalém com 250 metros de extensão, do lado ocidental a cidade chegou ao vale de Hinom até onde hoje fica a atual Torre de Davi, além disso foram construídas ruas largas e praças ao modelo de cidades gregas da época. Com toda esta mudança começaram a voltar para Israel milhares de judeus que estavam espalhados por todo mundo e a cidade voltou a ser o centro administrativo e espiritual do povo de Israel. Este período de independência sob a liderança dos macabeus foi interrompido no ano de 63 A.C com a conquista da Terra Santa pelas mão dos romanos.

O PERÍODO HERODIANO
Em 37 A.D. os romanos nomearam a Herodes como rei da Judéia, Herodes na realidade era um Edomeu(Edom) que havia sido escravo e segundo a tradição havia se "convertido ao judaísmo". Herodes iniciou um período sem precedentes na história da cidade, sendo o maior construtor da cidade na antiguidade. Suas obras se expandiram até mesmo no anos de 44 A.D sob o comando de Agripas seu neto. Durante este período a cidade tomou proporções tão grandes que somente no final do século XIX voltou a tomar. Neste período foram realizadas grandes obras na esplanada do templo bem como a Construção do Segundo Grande Templo de Jerusalém, ou melhor o Templo de Herodes. Foram construídas alí duas grandes fortalezas, a de Antônia ao norte onde Yeshua ( Jesus ) foi julgado e condenado e a de Silicia ao sul da esplanada. No lado ocidental da cidade Herodes construiu ali seu palácio com três grandes torres, uma das quais permanece de pé até o dia de hoje e é chamada de Torre de Davi, a cidade se expandiu ocupando todo o quarteirão cristão dos dias de hoje. Hoje no local chamado Torre de Davi está o museu da Torre de Davi aberto a visitas no mesmo local onde no passado estava o palácio de Herodes. Durante o período de Agripas a cidade se expandiu ainda mais chegando até mesmo onden hoje está o campo dos russos que fica na parte ocidental da cidade, fora das muralhas atuais. Ao oriente a cidade se expandiu até abaixo do Vale de Cedron onde hoje fica o consulado oriental dos Estado Unidos onde há ruínas de uma muralha deste período. Neste período a cidade tinha o dobro do tamanho da cidade velha nos dias de hoje e acredita-se que viviam nela cerca de 100.000 habitantes. No Bairro Herodiano que fica no quarteirão judaico podem ser vistas ruínas deste período da história, o museu da casa queimada e fazem parte deste período locais famosos como o Muro Ocidental ( O Muro das Lamentações ), as portas e escadarias de Hulda no parque arqueológico do Ofel, a Esplanada do Templo, a torre herodiana no Museu da Torre de Davi e ruínas da Fortaleza de Antônia no Monte do Templo.


A GRANDE REVOLTA

A revolta judaica teve início no ano de 66 A.D e se estendeu até o verão de 70 A.D. quando a cidade foi conquistada pelos romanos, o templo e suas casas foram queimadas e seus muros derrubados. Durante este período muitos dos judeus se esconderam em seus canais de esgotos subterrâneos e fugiam durante a noite para fora da cidade. Os romanos decretaram que os judeus não poderiam morar na região e o palácio de Herodes passou a abrigar a décima legião romana que montou onde hoje é o quarteirão armênio nos dias de hoje, um campo de treinamento militar.
No ano de 130 A.D. Adriano determinou a construção de uma cidade a deuses pagãos sobre as ruínas de Jerusalém, o que provocou a revolta de Bar Koba entre 131 e 135 A.D. que foi reprimida e controlada. Com o fracasso da tentativa de retomar o sonho de um país livre das mão romanas, conclui-se a construção de Haelia Capitolina no lugar de Jerusalém.

HAELIA CAPITOLINA A JERUSALÉM ROMANA
A partir do domínio romano na cidade, começou-se a construir Haelia Capitolina sobre as ruínas da antiga cidade e segundo a tradição, de forma quadrangular onde duas ruas principais cruzavam a cidade, uma delas é o Cardo cuja rua pode ser vista ainda e o piso original pode ser visitado no quarteirão judaico nos dias de hoje. O Cardo era uma rua mercado e abrigava o comércio da região. Hoje no local pode ser visto uma reprodução do mosaico de Madba na Jordânia que revela um mapa da cidade neste período além do visitante poder caminhar entre as colunas e lojas desta época. As muralhas desta nova cidade romana foram construías por volta do século III e permaneceram como base da antiga cidade até o final do século XIX, sofrendo diversas alterações e reformas através de diversos períodos da história. Com a transformação do Império Romano em um novo império cristão, a cidade voltou a ter grande importância espiritual, atraindo para si muitos peregrinos, sendo considerada o centro espiritual do Império Bizantino Oriental. Durante esta época, diversas obras religiosas foram realizadas na cidade, bem como muitas igrejas, entre elas, a primeira igreja cristã em Jerusalém que foi recentemente descoberta bem abaixo da esplanada da Porta de Jaffa ( Yafo, Jope ). Durante o ano de 450 A.D. a imperatriz Audocia determinou a construção de uma nova muralha que cerca-se o complexo religioso construído no Monte Sião, onde estão a Igreja da Dormição, a Igreja de Siloé, a Casa de Caifas ( Sinédrio ), o Cenáculo e o Túmulo de Davi. A maior parte desta muralha foi praticamente destruída durante o grande terremoto ocorrido no ano de 1033 na região. Nos dias de hoje, parte de suas ruínas podem ser vistas não muito longe da Porta do Lixo, a porta mais próxima ao Muro das Lamentações e a entrada da Cidade de Davi. Por volta do século III a população da cidade chegou a 80.000 habitantes, marcando o auge no período cristão de Jerusalém. O imperador Justinianus construiu nesta uma igreja gigante conhecida como Henia Maria e ampliou a rua Cardo que cortava a cidade de norte a sul. O período da dominação cristã em Jerusalém perdurou até o ano de 638 A.D. com a primeira conquista muçulmana da cidade, cujo objetivo era converter sua população e dominar sobre o mundo inteiro. Por causa da rendição, a população não foi obrigada a abandonar a cidade e esta também não foi destruída. Desde então cidade passou a chamar-se Haelia e ficou sob o domínio de diversos califas, a primeira dinastia chamava-se Unia e foram eles que iniciaram a construção das mesquitas de Al-Aksa e Omar Al-Sharif ( Domo da Rocha ) e na região do Ofel, mais ao sul do Monte do Templo, diversos palácios foram construídos, inclusive a moradia do "Senhor do Mundo" como se alto denominavam os calífas desta época. Por causa destas grande obras, Jerusalém passou a ser considerada pelos muçulmanos como uma cidade santa e tomou o lugar de terceira maior importância para os muçulmanos em todo mundo. Porém seu limites não mudaram até o final do século XIX.

JERUSALÉM SOB DOMÍNIO ÁRABE
A cidade ainda experimentou um período de prosperidade durante os séculos VII e VIII, mas a população cristã era constantemente oprimida e obrigada a conversão. A Primeira Mesquita de Al-Aksa durou até o grande terremoto de 1033 A.D. quando foi totalmente destruída e uma nova mesquita foi construída sobre os escombros da primeira. A dominação muçulmana durou até o ano de 1088 A.D. quando os cruzados chegaram a região e conquistaram a Cidade Santa.

O REINO DE JERUSALÉM (PERÍODO DOS CRUZADOS)
A cidade Santa esteve nas mão dos cruzados por cerca de 88 anos e recebeu importância máxima, se tornando a capital do Reino de Jerusalém que abrangia boa parte do território de Israel. Novamente milhares de peregrinos começaram a fluir para a região. Durante este período diversas igrejas foram construídas e outras reconstruídas devido ao abandono durante o período da dominação muçulmana na região. A igreja do Santo Sepulcro foi construída no ano de 1140 A.D. Na mesma época foram construídas a Igreja de Santa Ana, junto ao tanque de Betesda e duas novas fortalezas onde hoje é o Museu da Torre de Davi além disso há indícios de um pedaço da muralha na região do Ofel, ao sul do Muro das Lamentações.

RETORNO MUÇULMANO A CIDADE
Em outubro de 1187 A.D. a cidade se render a Salah A-Din, permanecendo nas mãos dos muçulmanos até o ano de 1917 A.D. Em 1229 A.D. o governante muçulmano fez um acordo com o império latino cristão, afim de que os cristãos pudessem viver ali na parte centra e ocidental da cidade além de um corredor seguro para os cristãos chegarem ao porto de Jope no litoral do mediterrâneo. A situação de status cuo dos cristãos durou apenas 15 anos com a subida ao poder dos mamelucos.

OS MAMELUCOS EM JERUSALÉM
O período dos mamelucos na região durou até o ano de de 1517 A.D com a conquista do Império Turco Otomano. Durante o período mameluco foram construídas diversas escolas islâmicas e seminários e a cidade continuo a se expandir.

O IMPÉRIO TURCO OTOMANO
Os turcos dominaram a região até o ano de 1917 quando perderam a Batalha de Jerusalém para o Império Britânico em sua conquista da Terra Santa e o novamente o sonho de uma dominação cristã na região. Durante o Império Turco Otomano surgiram os primeiros bairros fora das muralhas, o Campo dos Russos e o Mishkanot Shaananim na região do Montifiori. Até esta época muitos temiam morar fora da cidade, a causa para isto éra os constantes saques que os árabes da região faziam nas casas dos novos moradores. Nos dias de hoje, Mishkanot Shaananim é um dos bairros mais nobre da cidade tendo vista para as muralhas ocidentais da cidade.

DOMINAÇÃO BRITÂNICA
Em 1917, com a vitória britânica sob o comando do General Alemby que prevaleceu sobre as forças turcas e a expulsão destes da região, iniciou-se um crescente movimento para reforçar o sonho de uma nova nação para judeus após cerca de 2.000 anos de história. Os primeiros movimentos de imigração começaram no final do século XIX e a população judaica da região vinha se estabelecendo cada vez mais. O Quarteirão Judaico estava em pleno progresso até o ano de 1947, quando sob o plano de partição das Nações Unidas, os jordanianos expulsaram sua população judaica e destruíram as casas dos judeus, além de proibir o acesso aos lugares santos, em especial o Muro das Lamentações. Com a proclamação do Estado de Israel no ano de 1947, cresceu a esperança da restauração de Jerusalém, em 1949 Israel declarou Jerusalém sua Capital após 2.000 anos de história, mas a cidade foi unificada no ano de 1967, quando na Guerra dos Seis Dias, após sangrentas batalhas na região, novamente o Povo de Israel pode entrar na cidade e chegar ao Muro das Lamentações. Os árabes que haviam limitado o acesso dos cristãos aos locais santos e impedido completamente aos judeus o acesso ao Muro das Lamentações, agora, junto com toda a população podem ter acesso aos seus lugares santos. Desde então Jerusalém têm expandido seus limites recebendo grandes verbas que possibilitam grandes obras afim de favorecer a empreendimentos de grandes empresas de alta tecnologia, empresas e serviços de turismo e os sítios arqueológicos têm sido recuperados e abertos ao grande público, Jerusalém aos poucos têm voltado a sua posição mundial, agora sob o domínio do povo de Israel dois mil anos após seu exílio, um verdadeiro milagre que nossos olhos podem presenciar nos dias de hoje.



© Anaildo J. da Silva, 2014

Prof. Anaildo Silva Th. M
Jornalista Profissional
Itep Raboni – Instituto Teológico de Ensino e Pesquisa



sexta-feira, 7 de março de 2014

CARTA A IGREJA DE PÉRGAMO (Ap 2.12-17)

Pérgamo a cidade dos livros e da ignorância espiritual 

Pérgamo ocupava um lugar muito especial na Ásia. Não estava colocada junto às grandes rotas, como Éfeso ou Esmirna; mas era a maior de todas as cidades asiáticas do ponto de vista da história. A razão era que, para a época em que João escreveu esta carta, Pérgamo tinha sido capital da Ásia durante quase quatrocentos anos. Por volta do ano 282 a.C. foi designada capital do reino selêucida, uma das divisões do império que Alexandre Magno deixou ao morrer. Foi capital desse reino até o ano 133 A.C. Esse foi o ano da morte de Átalo III. Em seu testamento este soberano legou seu reino a Roma. Com o território do reino selêucida Roma formou a província da Ásia, e Pérgamo seguiu sendo a capital. Sempre há algo de especial nas cidades capitais e Pérgamo tinha desfrutado dessa distinção durante quase 400 anos. Sua localização geográfica fazia com que Pérgamo fosse ainda mais impressionante. Estava construída sobre uma elevada colina cônica que dominava o vale do rio Caico; desde sua parte mais alta podia ver-se o Mediterrâneo, a 25 quilômetros de distância. 

William Ramsay, um erudito e viajante contemporâneo, descreve-a da seguinte maneira: "Dá a impressão de uma cidade real, como nenhuma outra das cidades da Ásia Menor. É sede de autoridades. Sua colina rochosa, tão enorme, acima da planície do Caico, tão orgulhosa, tão proprietária de si mesma..." Pérgamo nunca pôde obter a grandeza comercial de Éfeso ou Esmirna, mas era um centro cultural que ultrapassava essas outras duas cidades. Era famosa por sua biblioteca, que continha não menos de 200.000 pergaminhos. No mundo antigo somente a superava a biblioteca de Alexandria. É interessante assinalar que a palavra "pergaminho" deriva do nome da cidade, Pérgamo. Durante muitos séculos o papiro foi usado como material de escritura. O papiro era uma substância que se fazia com a polpa de um arbusto aquático que cresce em grandes quantidades às margens do Nilo. Extraía-se o miolo desta planta, que era alisada e prensada de modo a formar folhas, que por sua vez eram polidas numa de suas superfícies. O resultado era um material muito parecido ao papel "madeira" ou de "Manila", que se usava quase universalmente para escrever. 

No terceiro século antes de Cristo um rei de Pérgamo, que se chamava Eumenes, quis tornar a biblioteca de sua capital a mais importante do mundo. A fim de fazê-lo convenceu ao Aristófanes de Bizâncio, que era bibliotecário em Alexandria, para que fosse assumir a biblioteca de Pérgamo. Ptolomeu, rei do Egito, incomodou-se tanto por este "roubo" que ditou um embargo sobre os envios de papiro com destino a Pérgamo. Diante desta situação os estudiosos de Pérgamo inventaram o pergaminho, que se faz com couro alisado e encerado para que se possa escrever sobre sua superfície. Em realidade, o pergaminho é um material muito mais adequado para a escritura, e ainda que durante muitos séculos o papiro seguiu sendo usado, com o correr do tempo seria totalmente substituído pelo pergaminho. Pérgamo, então, glorificava-se em seus conhecimentos e sua cultura.

A IGREJA EM PÉRGAMO

Pérgamo era um dos centros religiosos mais importantes do mundo antigo. Havia nessa cidade dois santuários famosos. Na carta do Cristo ressuscitado a Pérgamo, este diz que a Igreja dessa cidade está localizada no lugar onde encontra-se o trono de Satanás". Esta referência denota, sem dúvida, algo que para a Igreja Cristã era particularmente mau e hostil para a fé. Alguns creram encontrar nestas palavras uma referência ao esplendor religioso pagão da cidade de Pérgamo. Vejamos, pois, quais eram os santuários mais famosos desta cidade, e se servirem para nos explicar o significado daquela frase.

  1. Pérgamo considerava-se defensora e custódia do estilo de vida grego e da adoração aos deuses pagãos dessa cultura. Pelo ano 240 a. C. os habitantes de Pérgamo haviam ganho uma grande vitória contra os invasores gálatas ou galos, povos considerados "bárbaros" ou selvagens. Foi graças a essa vitória que se conseguiu deter a penetração dos gálatas. Em memória do evento levantou-se um grande altar dedicado a Zeus. Foi erigido em frente do templo de Atenas, sobre o montículo cônico que dominava a cidade, a 250 metros de altura. Tinha o altar de 14 metros de altura, e estava localizado numa saliente rochosa da colina. Seu aspecto era o de um grande trono ou cadeira, sobre um dos lado da colina; e durante todo o dia, todos os dias do ano, elevava-se desde esse "trono" a fumaça dos sacrifícios o que nele se ofereciam a Zeus. Em sua base, esculpida na pedra, havia um dos mais maravilhosos baixos-relevos que o homem jamais tenha visto: a representação num friso da Batalha dos Gigantes, na qual os deuses gregos triunfam sobre os gigantes, divindades atribuídas aos bárbaros. Sugeriu-se que esse altar é o que no Apocalipse se denomina "o trono de Satanás". A posição desse monumento tornava impossível a qualquer visitante ou habitante de Pérgamo esquecer a deusa Atenas e o deus Zeus. Mas, por outro lado, é difícil que um autor cristão tivesse perdido o tempo em atacar o culto destas divindades, porque pelo tempo em que apareceu a Igreja a religião pagã já era um anacronismo, uma sobrevivência apenas do passado

  2. Pérgamo estava relacionada de maneira especial com o culto de Esculápio até o ponto que a este o estava acostumado a chamar "o deus pergaminho". Quando Galeno cita os juramentos mais comuns de sua época, menciona a Ártemis de Éfeso, Apolo de Delfos e Esculápio de Pérgamo. Esculápio era o deus curandeiro; na antigüidade seus templos sempre estavam perto dos hospitais. Havia muita gente, proveniente de todas as partes do mundo, que chegava a Pérgamo buscando a cura para suas doenças no templo de Esculápio. R. H. Charles apelidou a Pérgamo "o Lourdes da antigüidade". As curas eram realizadas em parte pelos sacerdotes e em parte pelos médicos. Galeno, que só foi superado como médico por Hipócrates, era natural de Pérgamo. Mas muitas vezes a saúde se atribuía à intervenção milagrosa e direta do próprio Esculápio. Pôde haver alguma razão para que os cristãos se sentissem movidos a chamar "trono de Satanás" ao templo de Esculápio em Pérgamo? Pôde haver duas razões.
Em primeiro lugar, o título mais famoso de Esculápio era "salvador". É possível que os cristãos tenham experimentado um calafrio de horror ao sentir que outro, fora de Cristo, recebia um título de salvador do mundo que só pertencia a Ele. Em segundo lugar, o emblema de Esculápio era uma serpente (que ainda se costuma usar como símbolo da medicina). É possível que qualquer judeu ou qualquer cristão interpretasse como satânico um culto que usava a serpente como emblema distintivo. Mas esta explicação não é totalmente satisfatória. Sugeriu-se que os cristãos veriam com consideração um lugar onde as gentes vinham buscando ser curadas de suas enfermidades — e muitas vezes o eram — antes que com indignação e ira. O culto de Esculápio sem dúvida não é uma base suficiente para chamar Pérgamo de "trono de Satanás" ao templo de Esculápio em Pérgamo? Pôde haver duas razões:


A ESPADA DE DOIS GUMES

O culto a César estava organizado em torno de um centro provincial, semelhante ao presbitério ou a diocese. Pérgamo era o centro do culto a César na província da Ásia. Foi a primeira de todas as cidades asiáticas (antes de Esmirna, inclusive) que teve, desde o ano 29 a.C., um templo dedicado a César. Isto significava que os cristãos de Pérgamo viviam sob uma constante ameaça de morte. Nunca sabiam quando cairia sobre eles a espada. Sem dúvida é por isso que Pérgamo se denomina "trono de Satanás". Era o lugar onde se obrigava os homens a dar o nome de "Senhor" a César. Para um cristão não havia nada que fosse mais demoníaco e satânico que isso.

Há duas coisas que devem destacar-se. Em primeiro lugar, este era um ato de lealdade política mais que uma profissão de fé religiosa. Em segundo lugar, Roma nunca planejou fazer com que este culto fosse exclusivo. Tendo completado sua obrigação cívica no templo do César, o cidadão podia adorar o resto do ano no templo onde melhor lhe parecesse, sempre que sua religião não fosse ofensiva à ordem ou à decência. Mas nenhum cristão poderia aceitar a obrigação de dizer "César é o Senhor", porque para ele havia somente um Senhor, Jesus Cristo. O governo romano foi incapaz de compreender este ponto de vista, e os cristãos eram considerados cidadãos desleais e perigosos revolucionários. Por isso foram proscritos e perseguidos.

Também existe a explicação que encontramos no princípio da carta a Pérgamo. No cabeçalho chama-se a Cristo ressuscitado "aquele que tem a espada aguda de dois gumes". Segundo a lei romana os governadores estavam divididos em duas categorias: Os que tinham o jus gladii (a lei da espada) e os que não o tinham. Os que possuíam o poder da espada tinham direito de morte ou vida sobre sua província; sua palavra era lei suficiente para que qualquer homem fosse executado na hora. Do ponto de vista humano, o procônsul, que governava desde cidade de Pérgamo, na Ásia, possuía o jus gladii, o direito da espada, e em qualquer momento podia fazer uso de sua prerrogativa contra os cristãos. A carta começa dizendo que os cristãos não devem esquecer que tal última palavra, entretanto, sempre a tem Cristo, que possui a espada afiada em seus dois gumes. O poder de Roma podia ser satanicamente aterrador; mas o poder do Senhor Ressuscitado era muito mais tremendo ainda.

O DESTINATÁRIO (Ap 2:12-17) 

Ser cristão em Pérgamo significava enfrentar o que pode chamar-se, como o teria feito Cromwell, "um compromisso muito difícil". Já vimos que em Pérgamo se concentrava a religião pagã. Adorava-se a Atenas e a Zeus, com seu magnífico altar que dominava a cidade; adorava-se a Esculápio, vindo até seu templo uma multidão de doentes dos quatro ventos; e sobretudo, em Pérgamo era onde mais exigente fazia-se o culto a César, que pendia sobre as cabeças dos cristãos como uma espada que a qualquer momento podia cair e executar sua ira. 

Por isso o Cristo ressuscitado diz aos cristãos de Pérgamo, “Conheço o lugar em que habitas”. A palavra “habitar” significa ter lugar de residência fixo num lugar. É muito estranho que se use esta palavra para referir-se ao lugar onde os cristãos vivem no mundo. Em geral utiliza-se o termo grego paroikein que significa estar de passagem, residir de maneira temporária. Pedro, em sua Carta, escreve aos "estrangeiros" e os que "estão de passagem" nas províncias da Ásia.

É muito mais natural pensar que os cristãos são residentes temporários, em qualquer lugar onde se encontrem no mundo. Mas os cristãos de Pérgamo têm sua residência permanente, pelo menos do ponto de vista do mundo, na cidade de Pérgamo; e Pérgamo é o lugar onde está o trono de Satanás, o lugar onde o governo de Satanás é mais forte, onde Satanás exerce maior autoridade. É ali onde os cristãos de Pérgamo devem ficar, gostem ou não gostem. Estão ali e não podem ir a outro lado. 

Aqui há algo muito importante. O princípio da vida cristã não é escapar mas sim conquistar. É fácil que pensemos, às vezes, que nos seria muito mais fácil ser cristãos em outro lugar, em outros povos, sob circunstâncias diversas; mas o dever do cristão é não evitar as dificuldades, mas dar testemunho de Cristo onde a vida o colocou. 

Ouvimos em certa ocasião a história de uma moça que se tinha convertido numa campanha evangelística. Seu primeiro passo foi deixar seu trabalho no periódico secular onde trabalhava e tomar um novo trabalho num pequeno periódico cristão, onde sempre estava rodeada por crentes. É curioso que o primeiro efeito de sua conversão tenha sido escapar. Quanto mais difícil seja ser cristão numa situação e circunstâncias específicas, maior é a obrigação de ficar nesse lugar. Os cristãos de Pérgamo tinham que ser discípulos de Cristo no lugar onde estava o trono de Satanás, e ali era sua obrigação ficar. Se nos primeiros tempos os cristãos escapassem toda vez que encontrassem dificuldades demasiado grandes para viver sua fé, não se tivesse podido ganhar todo um mundo para Cristo. 

Por outro lado, os cristãos de Pérgamo demonstraram que era possível ser cristão sob as piores circunstâncias. Mesmo quando pesava sobre eles a ameaça do martírio, não se amedrontaram nem iniciaram a retirada. Sabemos muito pouco sobre Antipas; uma lenda, citada por Tertuliano, diz que morreu ao ser colocado dentro de um touro de bronze e ser aceso o fogo por baixo para que assasse. Mas há algo no texto original, em grego, que é muito difícil de traduzir ao português. O Cristo ressuscitado chama o Antipas "meu martus fiel". Para nós, a palavra martus significa "mártir". Mas em grego martus quer dizer comumente "testemunha". Para os cristãos primitivos ser testemunha e ser mártir eram a mesma coisa. O testemunho significava muito freqüentemente martírio. O cristão dos primeiros tempos sabia muito bem que ao aceitar a fé se converteu, automaticamente, em réu de morte. 

Aqui há algo para que nos envergonhemos. Há muitos que estão sempre dispostos a exibir seu cristianismo entre cristãos; mas assim que o círculo que os rodeia é formado preponderantemente por incrédulos, dissimulam seu cristianismo, para não serem ridicularizados, para não receberem zombaria ou desprezo. O cristão deve lembrar que ser testemunha também significa ser mártir, e que não é estranho que ao dar testemunho de Cristo se deva enfrentar também o sofrimento e até a morte. 

Mas deve notar-se ainda outra coisa. O Cristo ressuscitado chama a Antipas "meu martus fiel". Deste modo lhe outorga o mesmo título com que Ele é distinguido. Em Apocalipse 1:5 e 3:14 Jesus Cristo recebe o título de "testemunha fiel"; Jesus Cristo outorga sua próprio honra e nome a todos os que lhe são fiéis. É muito fácil ser cristão quando isso não ocasiona problemas sérios; mas a maior glória corresponde ao homem, à mulher, que aceitam o fato de que o testemunho e o martírio muitas vezes andam de mãos dadas.

AS HERESIAS DE PÉRGAMO (Ap 2:12-17; 2:1-7) 

DOUTRINA DE BALAÃO

Surge aqui uma heresia que o Cristo ressuscitado diz que lhe é odiosa. Elogia os efésios porque eles também a aborrecem. Pode parecer estranho que se atribua um sentimento tão negativo ao Cristo ressuscitado. Mas devemos lembrar duas coisas. Em primeiro lugar, se amamos a alguém com amor apaixonado e intensamente, odiaremos, ao mesmo tempo, qualquer coisa que ameace arruinar sua alma e corpo. Em segundo lugar, devemos lembrar que sempre se deve odiar o pecado, mas amar o pecador. A santa ira de Deus acende-se ardente contra o pecado, mas o amor de Deus pelo pecador nunca esfria nem esgota. Os hereges aos quais o texto se refere são os nicolaítas. Somente os nomeia, não os define. Mas voltamos a encontrá-los. Aqui são relacionados com os que “sustentam a doutrina de Balaão” (v.14). E isto, por sua vez, relaciona-se com a ingestão de alimentos oferecidos aos ídolos e com a fornicação. Voltamos a encontrar o mesmo problema em Tiatira, onde a ímpia Jezabel fazia os crentes fornicarem, e os tentava a comer alimentos oferecidos aos ídolos. Deve notar-se, em primeiro lugar, que este perigo não provém de fora da Igreja mas sim de dentro. Os hereges são inimigos em nossas próprias filas. Não planejavam destruir o cristianismo, mas sim oferecer uma nova versão, melhorada e modernizada, da verdadeira fé. Deve notar-se, em segundo lugar, que na Carta a Pérgamo os nicolaítas e os que seguem a doutrina de Balaão são intimamente relacionados. 

O nome de Nicolau, fundador dos nicolaítas, provém de duas palavras gregas, nikan, que significa conquistar e laos, que significa povo. Balaão, por seu lado, pode derivar-se de duas palavras hebraicas, mofa, que significa conquistar, e ha'am, que significa povo. Os dois nomes, então, têm o mesmo significado e, provavelmente se trate da mesma pessoa, um mestre daninho mas influente, que conseguiu subjugar a muitos seguidores e ganho uma vitória para o mal. Qual é a história de Balaão do Antigo Testamento? Em Números 25:1-5 encontramos uma história muito estranha sobre como os israelitas foram seduzidos a manterem relações ilícitas e sacrílegas com mulheres moabitas e a adorarem a divindade pagã Baal-Peor, uma sedução que, se não fosse controlada com severidade, teria arruinado toda a religião de Israel e a teria destruído como nação. 

Quando seguimos lendo e chegamos a Números 31:16 encontramos que esta separação se atribui totalmente à influência maléfica de Balaão. Balaão, portanto, figura na história do povo hebreu como uma pessoa perversa que arrastou o povo de Deus à imoralidade e ao pecado. Vejamos agora o que dizem os historiadores da Igreja com relação aos nicolaítas. A maioria os identifica como seguidores de Nicolau, um prosélito de Antioquia que aparece em Atos (6:5) como um dos sete comumente chamados diáconos. A idéia é que Nicolau se perverteu e chegou a ser o dirigente de uma heresia. Irineu diz com relação aos nicolaítas que "viviam vidas de irreprimida indulgência" (Contra Hereges, 1.26.3). Hipólito diz que Nicolau era um dos sete, e que se apartou da doutrina correta, "inculcando a indiferença em matéria de alimentos e hábitos de vida" (Refutações de Heresias, 7.24). 

As Constituições Apostólicas descrevem a Nicolau como "desavergonhado em sua impureza". Clemente de Alexandria diz que "os nicolaítas se abandonam ao prazer como bodes... levando uma vida de indulgência irreprimida". Mas livra a Nicolau de toda culpa, dizendo que os nicolaítas corromperam o ensino daquele, para quem "a carne devia ser abusada". Com estas palavras Nicolau queria dizer que o corpo deve ser castigado; os hereges perverteram este ensino ao afirmar que a carne pode usar-se tão vergonhosamente como a pessoa imaginar (Miscelâneas, 2.20). Os nicolaítas, então, ensinavam a imoralidade e a vida leviana. Procuraremos descrever de maneira mais detalhada o ponto de vista e os ensinos destes hereges. A carta a Pérgamo diz que os nicolaítas faziam com que os crentes comessem carne que tinha sido oferecida aos ídolos e fornicassem. Nos decretos do Concílio de Jerusalém (Atos 15:28-29) estabeleceu-se que os gentios seriam admitidos na Igreja só se estivessem dispostos a aceitar duas normas de vida: Abster-se de comer carne que tivesse sido sacrificada aos ídolos e não fornicar. São estas as duas condições que os nicolaítas quebrantavam. É muito provável que os nicolaítas oferecessem a seguinte argumentação a favor de sua doutrina herética: 
  • A Lei perdeu vigência, portanto já não há regras, mandamentos ou normas que devam obedecer-se. Temos o direito de agir como bem quisermos. Confundiam a liberdade cristã com a libertinagem, que tão longe está de nossa verdadeira fé. Eram aqueles a quem Paulo aconselhou a não usarem sua liberdade como ocasião para a carne (Gálatas 5:13).
  • É provável que cressem na corrupção radical do corpo, afirmando que só o espírito era bom. Portanto a pessoa podia fazer o que queria com o corpo, porque este já não contava e era impossível redimi-lo. Se o corpo carecia de importância, não importava tampouco se o cristão saciava até a indigestão seus apetites.
  • Provavelmente sustentavam que o cristão está a tal ponto sob a proteção da graça divina, que não tinha importância aonde fosse, o que fizesse ou com quem andasse. A graça o protegia e fizesse o que fizesse obteria sempre perdão de parte de Deus. Ressalta evidente que os nicolaítas eram tremendamente perigosos, porque pervertiam para seu próprio beneficio as verdades cristãs mais importantes. 
  • O que podemos perceber por trás da perversão da verdade que os nicolaítas pregavam? O problema era a diferença que necessariamente havia entre a sociedade pagã e a comunidade de cristãos primitivos. Os pagãos não tinham problemas em comer carne que tinha sido oferecida aos ídolos. Em geral o faziam em qualquer celebração festiva da que participassem. Poderia o cristão participar de tal festejo? Os pagãos, por outro lado, não tinham uma norma moral que exigisse que fossem castos. As relações sexuais antes e fora do casamento eram normais para eles e não constituíam uma desonra. Deviam os cristãos ser tão diferentes? Deviam separar-se tanto das práticas e normas do mundo em que viviam? Era necessário que fossem tão diferentes? Os nicolaítas sugeriam que não havia razão alguma para que os crentes se diferenciassem dos demais em matéria de moral, visto que não havia razões de peso para que tivessem que "romper" com o mundo. William Ramsay descreve seus ensinos da seguinte maneira: "Era um intento de efetuar um compromisso razoável com a sociedade gregoromana, retendo tanto quanto possível de seus costumes no regime de vida dos cristãos." Este ensino, como era de esperar-se, afetava sobretudo os cristãos cultos e influentes, membros das classes superiores, porque estes eram os que tinham mais a perder ao se entregarem sem reservas às exigências do Evangelho. Para João os nicolaítas eram piores que os pagãos, porque agiam como inimigos que conseguiram infiltrar-se nas filas da Igreja. Os nicolaítas queriam estar de acordo com o mundo; não estavam preparados para ser diferentes; não estavam em condições de tomar a grande decisão; queriam desfrutar do melhor de ambos os mundos. De um ponto de vista prático eram os piores hereges que houve, porque se seu ensino tivesse tido êxito, o mundo teria mudado o cristianismo e não o contrário o cristianismo mudado o mundo.

NICOLAÍTAS

Em que pese a fidelidade da Igreja em Pérgamo, nela havia aqueles que viviam no erro. Havia aqueles que seguiam os ensinos de Balaão e a doutrina dos nicolaítas. Já vimos quem eram estes hereges quando estudamos a carta a Éfeso, e voltaremos a nos ocupar deles quando explicarmos a carta a Tiatira. Bastará no momento dizer que segundo os nicolaítas não havia nada mau em que os cristãos se adaptassem aos costumes do mundo, e portanto recomendavam seguir uma política de prudente compromisso quando se tratava das práticas e a moral da sociedade pagã. 

O homem que não está preparado para ser diferente não deve sequer dar o primeiro passo no caminho do discipulado cristão. A palavra mais comum que se usa no Novo Testamento para designar os crentes é hagios; em várias oportunidades assinalamos que o significado fundamental deste termo é "separado" e "distinto". O Templo é hagios porque é diferente a todos os outros edifícios; o Sabath é hagios porque é diferente de todos os outros dias; Deus é o supremo hagios porque em sua infinita santidade e pureza é totalmente diferente de todos os outros seres; e o cristão é hagios porque é diferente dos demais. 

Devemos entender muito claramente o que significa esta diferença, porque contém um paradoxo. Paulo exorta os coríntios a ser diferentes: “Saí do meio deles”, diz-lhes (2 Coríntios 6:17). Esta diferença com relação ao mundo não significa que o cristão deve isolar-se e viver separado do mundo, nem significa que se deva desprezar, odiar ou ter em menos conta o mundo. 

É o mesmo Paulo quem diz à mesma igreja: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Coríntios 9:22). Paulo afirmava que ele era capaz de dar-se bem com qualquer. Mas — e aqui está a diferença — se dava bem com todos para poder ganhar alguns. Não se tratava de baixar o cristianismo até seu nível; era questão de elevar a outros até o nível do cristianismo. O erro dos nicolaítas era tentar rebaixar a vida cristã ao nível da vida dos pagãos antes que elevar o mundo de sua época ao nível do cristianismo. Em outras palavras, sua política ara o arranjo, e sua motivação terminantemente evitar os reações negativas que não estavam dispostos a sofrer. O Cristo ressuscitado diz que virá e pelejará contra eles. Note-se que não diz "pelejarei contra vós". A ira de Cristo não se dirige contra a totalidade da Igreja em Pérgamo, mas sim contra aqueles que estavam seduzindo, levando pelo mau caminho e tentando a Igreja. Com relação aos seduzidos, aos que tinham sido tirados do caminho correto, aqueles que tinham sido ofendidos mais que cometer, ofensa, não sinta mais que piedade. A ira de Cristo é mortífera para os que fizeram outros caírem. 

Jesus Cristo diz que virá e pelejará contra os tentadores com "a espada de minha boca". O Cristo da espada é uma idéia surpreendente. Pensando em muitos conquistadores e comparando-os com Jesus um poeta escreveu: Então todos aqueles desapareceram da cena Como sombras vacilantes sobre um espelho; E conquistando século após século ao longo da história Veio Cristo, sem espada, montando um asno.

O que significa, então, esta referência à espada da boca de Cristo? O autor de Hebreus fala da Palavra de Deus que é mais afiada que uma espada de dois gumes (Hebreus 4:12). E Paulo fala que "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (Efésios 6:17). A espada de Cristo é sua palavra.

Nas palavras de Cristo o pecador encontra a convicção de seu pecado; nela qualquer homem é confrontado com a verdade e obrigado a reconhecer seu fracasso ao tentar conhecer e viver a verdade. Na palavra de Cristo há um convite para ir a Deus; convence o pecador de seu pecado e o convida à redenção: nunca o condena irremediavelmente. Na palavra de Cristo temos a segurança da salvação; ela convence o pecador de seu pecado, leva-o até a cruz e lhe outorga a segurança de que não há outro nome sob o Sol, de todos os que foram dados ao homem, mediante o qual possa ser salvo, exceto o nome de Jesus (Atos 4:12). A conquista que faz Cristo é seu poder para ganhar os homens para o amor de Deus.





Por Anaildo Silva
Teólogo e Jornalista















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