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domingo, 15 de setembro de 2013

A Reforma Monoteísta do Faraó Akhenaton

O faraó Amenófis IV, que governou o Egito de 1364 a 1347 a.C., é considerado um dos precursores do monoteísmo, instaurando uma nova religião e assumido o nome de "Akhenaton", como veremos adiante. Mesmo tendo uma história envolvida em uma aura de mistério, não há como negar que ele foi um inovador revolucionário. Seu pensamento aliou o senso crítico e a racionalidade ao espírito religioso. O espírito inovador vinha desde as influências do seu pai, Amenófis III, que governou o Egito de 1402 a 1364 a.C., um homem de intensa religiosidade, que quebrou alguns padrões de seu tempo, por exemplo, tomando por esposa Tiy, de origem plebeia. Após os dez primeiros anos de governo, viveu como um homem doente durante trinta anos.Na busca de obter a cura,mandou lavrar, em granito, 600 estátuas da deusa com cabeça de leão, Sekmet. Também mandou vir do estrangeiro divindades da saúde. Uma outra inovação do pai de Akhenaton foi a de instaurar uma nova compreensão do antigo conceito do "rei-deus".De fato, além de assumir-se como representante do deus Amon na Terra, ele também se sentia representante do deus Sol, Rá, que era o deus principal do reino. Akhenaton foi influenciado pelo clima religioso com que se cercou seu pai, pela adoração ao deus Sol e pela hiper exaltação do faraó. Como fizera seu pai, ele também tomou por principal esposa uma mulher que não pertencia à nobreza, a bela Nefertite.

A isso se acrescentou sua formação, com o mestre Eye. Presenciou uma onda de vivo interesse pelo culto dos animais no palácio. E ainda, viu o Egito, com sua cultura autóctone,ser confrontado coma pluralidade de outros povos. Tudo isso o levou a refletir,meditar,fazer uma seleção racional, até escolher um único deus.E ele escolheu Aton ,representado não por um animal, mas pelo disco solar. Dessa forma, criou um "monoteísmo esclarecido" (BRUNNER-TRAUT, 1999). Veja quais foram os passos da reforma religiosa realizada pelo faraó Akhenaton: 

1) construção do templo de Hebsed, dedicado ao deus Aton, na direção do Oriente, próximo ao grande templo de Amon;
2) mudança na representação do deus Aton: da forma humana com cabeça de falcão, passa à forma esférica, com a serpente na margem inferior, símbolo de vida, e raios que terminam em mãos,símbolo da transmissão de vida à família real;
3) instauração da festa do Sed, dedicada à renovação das forças do faraó – antes, essa festa só era celebrada após 30 anos de governo;
4) substituição de todos os deuses do faraó, no templo de Hebsed, pelo único deus Aton;
5) fundação de nova sede religiosa e cidade-templo, na margemorientaldoNilo, emlugar aindanãocontaminado por outros deuses. Dessa forma, o faraó Amenófis IV instituiu, em Amarna, uma nova religião, que era uma teocracia monoteísta. Instalou a sede do governo divino, com uma arquitetura que possibilitava ao casal divino o contato permanente com o Sol. Passou a viver uma rela- ção de filho como deus Aton, e também, nesse momento,mudou seu nome para Akhenaton, que significa "Bem-Amado de Aton", ou "Brilho de Aton".

Outra inovação foi a de instaurar a divinização não só do faraó, como era costume, mas também de sua esposa. Entretanto, como observa Terrin (2003), a tentativa de Akhenaton, de estabelecer um único deus de nome Aton, encontrou o limite do seu tempo. Após sua morte, seu genro e corregente Semenchkarê o sucedeu e procurou manter as reformas .No entanto, Tutankh-Aton, ao assumir o trono, orientado por Eye, aos poucos voltou à crença anterior, lavrando um edito de restauração, além de mudar seu nome para Tuthankh-Amon. A restauração da religião anterior, no Egito,foi lenta e firme. Dessa maneira, a história do período de Amarna e de seu rei Akhenaton foi apagada e não houve seguidores. Entretanto, a reforma religiosa de Akhenaton permanece referencial, como rejeição da corrupção dos sacerdotes de Amon e busca de formas racionais da divindade. Ela constituiu um passo decisivo para uma religião esclarecida, coma escolha de um único princípio divino. Além disso, sua proposta de monoteísmo, com um pensamento coerente, imbuído de profundo e delicado sentido da transcendência, influenciou a fé judaico-cristã. Podemos citar, como exemplo, o Salmo 19 bíblico, que assume trechos do hino egípcio ao deus Sol, como este: "[...] Aí ele pôs uma tenda para o sol, e este sai, qual esposo de seu quarto, como herói alegre, percorrendo o seu caminho..." (Sl 19:5-6). Já o Salmo 104 traz um paralelo literal desse hino egípcio, que exalta o poder e a majestade de Amon-Rá e de Aton, enquanto criadores e conservadores. Entretanto, Firestone (2007) afirma que a reforma de Akhenaton reflete uma espécie de henoteísmo (culto a uma única divindade), porque fez com que apenas um deus fosse cultuado,todavia sem negar a existência de outros deuses. Sobre o henoteísmo, falaremos a seguir.


Prof. Anaildo J. Silva Th. M
Itep - Raboni 
Instituto Teológico de Ensino e Pesquisa
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